Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

o sábado aperta

CF6F71CF-69D6-45DA-AC01-DF63B4C188D9.jpeg

 

O sábado aperta, com o sol a dar o ar da sua graça.
O sábado aperta, com o canto dos pássaros que já não rumam a sul, alimentados por aí assim que acaba o verão.
O sábado aperta, com os risos das crianças que percorrem, nas suas pequenas bicicletas, o parque em frente.
O sábado aperta, nas mãos dos vizinhos que leem um livro na varanda e que, de quando em quando, as enlaçam.
 
O sábado aperta ainda mais quando corre o mar com os olhos.
Quando lhe adivinha a areia próxima, agora inacessível, onde queria mergulhar os pés, sacudir a solidão e o interminável dos dias.
 
O sábado aperta quando lhe encerram os passos,
mas a vida aperta quando lhe proíbem o mar...
 
 
 
 

direito a morrer

2281 lx 2015.jpg

O direito à eutanásia é uma luta de anos.
Foi aprovada agora? O problema está no atraso com que acontece. No atraso.
 
Imaginem uma pessoa a quem, a qualquer momento podem dizer "esgotámos as hipóteses, vamos falar de cuidados paliativos".
 
Imaginem que essa pessoa não quer passar os últimos tempos a receber as visitas do marido, dos filhos, que se esgotam emocionalmente nesse percurso.
 
Essa pessoa passa os dias a imaginar como, numa realidade dessas, acabar com a própria vida enquanto tiver forças para tal.
 
Essas pessoas existem. E estavam à espera disto.
 
 
 
 
 
 

desafio manuscrito

30B8748A-F9DB-40AC-960A-4BC9E7E1D8D5.jpeg

N' O Último Fecha a Porta, encontrei o o desafio manuscrito

Já lá vai o dia da escrita à mão, mas participo agora! :)

Gosto muito, muito de escrever à mão.

Gosto de canetas de tinta, e tenho algumas com 30 anos que mantenho religiosamente e me servem para escrever e desenhar.

A minha letra sempre foi pequena e cheia de ângulos, difícil de entender. 

Para escrever e tomar notas, fora de casa uso o Evernote, uma app que sincroniza telemóvel e computador.

Mas gosto de ter um livro de notas à mão - e normalmente tenho sempre - onde alterno entre o texto e o desenho.

Gosto de escrever, rasurar, abandonar e voltar mais tarde, quando o olhar já mudou. E as palavras, antes paradas, tomam novos impulsos. 
 

 

uma máquina de escrever

30DBE1A2-C961-43F0-9747-DC885FABB689.jpeg

 
 
Foi ao som da música de uma máquina de escrever que registei os meus primeiros textos.
Como incentivo para continuar a escrever, ofereceram-me uma Messa verde e pesada, que era a minha grande companheira.
Esta já é mais leve, maneirinha, mas uma digna sucessora. Também Messa, a marca portuguesa.
 
Escrever à maquina ajudava-me a ter cuidado com a ortografia (as emendas não ficam bonitas) e com a minha dislexia. Lendo em voz alta e soletrando cada palavra, detetava melhor os truques do meu cérebro para me enganar, trocando-me sílabas na cabeça.
A minha primeira faculdade acabou mesmo por ser a de Letras, o que prova que podemos aprender a lidar com algumas situações de dislexia.
 
Gosto do barulho dos tipos, da lentidão que exige o processo. Pousar os dedos, tecla a tecla, na entrega profunda ao ato físico da escrita.
 
A pausa como método, a cadência como embalo do criar.
 
Agora, enquanto bato cada tecla, só faltam as vozes dos pais a cantar, ao fundo, para voltar aos anos 80 ...
...Faltavam, porque, fechando os olhos, soltam-se as suas vozes das paredes onde têm ficado guardadas, entre as minhas idas e as voltas à adolescência.

 
 

desafio caixa dos lápis de cor | castanho

A4FFC466-F348-48EC-8917-F3C7495313F5.jpeg

A segunda cor do Desafio Caixa dos Lápis de Cor é o castanho.
Lembrei-me logo de uma antiga colega que abria o braço num gesto largo e dizia "...os castanhos" quando se referia a todas as cores neutras. Um hábito da velha escola. 
Não me saiu esta imagem da cabeça, tinha que ser esta a forma como o castanho surgiria na minha narrativa... e aqui está ela: 


Sem pensar, começou a colocar a tinta na paleta. Espalhou-a em volta, guardando o centro para os neutros.
"Que é isto", interrogou-se...
 
E conforme olhava aquelas cores abertas, impressionistas, tão longe dos seus esboços, percebeu que não eram mais que o desejo que tinha de alegria, de vida.
 
Olhou o tubo de castanho. Apertou-o e caiu um pouco ali, a meio da paleta.
 
Pegou no pincel e arrastou-o para cima do vermelho. Depois, do amarelo. Do verde, do azul...
E ficou ali, tirando a luz das cores, uma a uma. 
Até acabar numa mancha de sombra.
 
Naquela paleta viu a sua existência.
Os castanhos que entravam pelo vermelho da sua paixão, invadiam o amarelo da alegria, emudeciam o azul dos  sonhos... e convertiam os seus dias num tom indefinido de sombra.
 
Viu cada uma das mãos que a cercava, sufocava, jorrando castanho para as cores das suas emoções e sentires.
 
E ali, decidiu tomar nos braços a paleta da sua vida. E não permitir que qualquer cor nas mãos dos outros invadisse as tons que escolhia para pintar os seus dias...

 


foto: na falta de uma paleta aqui à mão... a minha caixa de aguarelas preferida 

Pág. 1/7