Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

manhã de liberdade

66459FAF-C564-4BF8-9841-14A89E2D8155.jpeg

Amanheceu, e eu no aconchego, um olho aberto e o outro fechado, adivinhando o sol a erguer-se lentamente, conforme os raios se iam estendendo sobre a colcha, provocadores.
 
Sentia o ar frio do quarto, o calor do gato adormecido, a respiração de quem dormia a meu lado. "Estão os dois vivos", pensei, "já é um bom começo".
 
O sol continuava, cada vez mais intenso, cada vez mais difícil de ignorar. "Vou fazer um café, pode ser que te acalmes", pensei para os raios insistentes. Mas um expresso duplo depois, ainda me ofuscavam a tentativa de continuar a ler.
 
"Ganhaste" e pousei o livro. "Já aí vou ter".
Meia hora depois, o cheiro a mar entrava, frio e forte pelo nariz, pelos ouvidos, pelos olhos...
"Bom dia, dois cafés e os respetivos pastéis de nata".
 
E ali fiquei com o meu livro, interrompido por vezes pela melhor das companhias e uma boa conversa.
Outro café. E mais deste mar de Inverno que amo de paixão.
Não se deita fora uma manhã de liberdade. 


foto: Carcavelos no Inverno 
 
 

o silêncio da neve

 

 

 

A primeira vez que acordei após um nevão, foi avassalador.
Abri a janela mas, mais que a brancura que cobria tudo, fiquei de respiração suspensa com... o silêncio!
 
Nunca. Nunca antes vivi ou voltei a viver o verdadeiro silêncio. O ficar atenta mas não escutar nada. Um silêncio absoluto, toda a natureza quieta, imóvel.
 
Fiquei ali de olhos bem abertos, varrendo com o olhar as formas que adivinhava.
Fiquei, sentindo o recolhimento de todos os seres vivos, como se aquietados para deixar a terra dormir.
Era um plano conjunto do universo para a serenidade da natureza, e qualquer movimento meu era descabido e perturbador.
 
Fiquei, respirando o ar frio e sentindo-me parte de um milagre.
Na continuação do Inverno, acordava e se silêncio fosse tudo o que me esmagava, corria e abria a janela de par em par!
 
 
Fotos: Montalegre, 2012