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Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

férias do mundo

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Os resultados eleitorais demonstram o fraco conhecimento que se tem da história, o poder do voto do ódio e a polarização crescente que toma conta do mundo.
 
Há alturas em que sentimos que não fazemos parte desta sociedade  porque estamos sós, porque não nos enquadramos e vivemos em perpétuo fingimento, porque achamos que ninguém nos quer ouvir.
 
Já passei por todas essas fases, como qualquer ser pensante.
Mas neste momento, o mundo cada vez me repugna mais.
E se lamento ter lançado a ele seres humanos que terão que chafurdar nesta merda, resta-me o consolo de terem as qualidades para o tornar um pouco melhor.
Seres humanos compassivos, que não descriminam o outro pela religião, etnia ou escolha sexual.
Seres que não acreditam na meritocracia e que assumem o seu papel contribuindo para ajudar os que têm menos oportunidades e recursos.
 
Neste momento até agradeço o confinamento.
Vou para casa. Já que me colocaram de férias... é do mundo que desprezo que tiro férias também.

Vou pintar, escrever, falar com os pássaros.
Avisá-los quando se aproxima o milhafre que por lá anda.
 
Ver a terra que dorme, a ganhar forças para a Primavera.
 
 
 
 
 

os dias dos outros

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Dias seguidos por dias. No mesmo casulo fechado ao frio, fechado aos outros.
Começam a intrometer-se nos pensamentos os sons alheios, antes ignorados por um cérebro em contínua laboração.
 
Fico a saber que há por aqui uma janela perra, só abre depois de um safanão.
Deve ser de um quarto, é sempre aberta de manhã, pela mesma hora e fecha-se pouco depois, com outro ruído seco. Hum. Soa-me a arejamento.
No sexto direito, mas não garanto, que tenho pouco ouvido.
 
Alguém fuma muito, e dentro de casa. O cheio sobe pela ventilação, invade a casa de banho.
Deve ser a vizinha do primeiro andar, que vive sozinha e nestes anos nunca largou um "bom dia" ou um sorriso.
 
Nunca vi a vizinha do terceiro. Tem uma empregada interna com uma farda verde e azul turquesa.
Que tem medo de andar de elevador, sobe as escadas carregada de compras.
Nunca vi a vizinha, mas deve ser uma pessoa alegre. Ninguém sorumbático escolheria aquelas cores para uma vestimenta.
 
E na apropriação dos dias dos outros, vou ocupando os meus próprios dias...