Os livros que estão há muito connosco, têm o dobro das estórias para contar.
As folhas abrem-se e, junto à sua história, correm as nossas próprias narrativas que lá se foram aconchegando no tempo.
A memória de mudar de mãos. O bilhete que foi deixado a marcar a página. Os grãos de areia daquele Verão em que nos acompanhou nas manhãs de praia.
Ou, como neste livro, o momento exato em que alguém querido nos abriu um mundo novo.
Volto, por vezes, à casa dos meus pais. Pouco a pouco, ganha-se coragem para entrar mais fundo num passado que ainda me sabe bem estagnado, quieto. Por vezes, até cedo à tristeza e trago um livro.
Esta obra foi o meu primeiro contacto com Sena, escritor e homem de palavra arguta... foi um livro que abalou o que até então era poesia para mim.
O meu pai começou por, pequena, me entregar as "Folhas Caídas" de Almeida Garret, a obra de Sophia e a Praça da Canção, de Manuel Alegre.
Um dia, achou que chegava de versos de rimas e ritmos que se liam como se sucedem as estações do ano e entrega-me a Sena. E abriu-se um mundo de possibilidades na poesia até então desconhecidas e o universo era, afinal, bem maior que aquilo que eu via.
Fiz tabula rasa do até então e escrever começou de novo, como se novo, e era novo.
Aprendi a circular de uma sala para a outra do quotidiano fechando a porta à saída.
Quando estou no trabalho, só penso no trabalho, não "espreito" o Instagram, o Sapo. Estou lá totalmente.
Se entro no tempo da família ou da vida social, não vou ao mail do trabalho, nem penso nele.
Não fui sempre assim. Algures no tempo trabalhei em casa e tive filhos pequenos, e os meus dias eram uma tremenda salganhada. Um pouco como se devem agora sentir os pais em teletrabalho com a criançada à volta. Ui!
Também passei a fase de não me conseguir desligar do trabalho. Era terrível, as insónias e ansiedade sempre à espreita.
Depois, aprendi a ter interruptores que me desliguem do que não quero no momento.
Ando pelo Instagram, por onde sei do que se passa no meu concelho, de espetáculos e eventos on-line... redescobri-o na pandemia.
Há um ano vim para aqui à Sapolândia, onde gosto do ritmo pausado que lhe posso imprimir.
Tenho a minha lista de leitura, espreito os últimos posts, fico pelos textos que gosto. E quando tenho vontade deixo as minhas impressões, respondo às dos outros. Mas não por obrigação, que já tenho muitas... só por diversão. É um interruptor para desligar de outras salas, o Sapo.
Entre outros interruptores estão as miniaturas (adoro casas de bonecas), artes têxteis, investigação, autossuficiência, fotografia, leitura, escrita... e a pintura, que hoje ilustra a minha crónica do interruptor!
Na minha vida, ligar e desligar foi uma aprendizagem demorada. Mas valeu a pena...