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Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

Projeto Ligações Perdidas neste dia da Língua Portuguesa

Comemorando o Dia Mundial da Língua Portuguesa, deixo a participação desta língua no projeto artístico de Arte Têxtil WOMEN INSPIRE WOMEN , liderado por Ellis Schoonhoven, na Holanda .
Este projeto juntou 50 mulheres, 50 línguas/dialectos com a mesma mensagem “Lost Connections”na sua língua nativa. “Ligações Perdidas", em português. 
A pandemia tem atrasado a instalação, veremos se em junho se conseguirá levar a cabo...
 
 
O programa dizia que as palavras “lost connections” seriam bordadas à mão, a ouro sobre cru por cada mulher, na sua língua, juntando-se referências culturais.
 
Como referências escolhi a caravela, criada pelos portugueses, que ligou os mundos através dos mares... mares que são força da natureza, mãe de vida e que nos unem, ainda. 
E um pequeno verso de Fernando Pessoa:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!”;

Foi um projeto idealizado e executado num confinamento que separou e uniu as gentes e, neste caso... Artistas Têxteis de tantos pontos do globo!
 
 
 

oferecer livros

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A quem gosta de ler, acham os amigos e família que é boa ideia oferecer o último grito do top da FNAC “porque provavelmente ainda não tens”. Errado. Provavelmente, também não quero ter.
Um livro é como um perfume: uns vão bem com a pele, outros com a alma, outros não batem certo com nada do que somos.
Há muitos anos que só uso dois perfumes e só com esses me sinto comigo, nem experimento mais; são a minha identidade. Felizmente já ninguém me traz outros quando tem que escolher à pressa um presente nas lojas do aeroporto. Já nos livros, sou muito mais flexível. Há autores que experimento e nem termino mas outros, volto a tentar, e tentar... afinal, há alguns “autores” de best sellers que até podem ter contratado uma equipa de ghost writers que eu goste, desta vez. E nem copiem trechos de outras outras obras para cumprir prazos.
As melhores das intenções levam também as nossas amigas a oferecer-nos livros porque “adoraram” e acham que nós, porque gostamos de ir jantar com elas, iremos partilhar o mesmo gosto nas letras. Errado, de novo.
E, assim, lá tenho a garagem cheia de caixotes do José R dos Santos, do Sousa Tavares, da Rebelo Pinto, do Paulo Coelho, da Sveva qualquer-coisa e outras coisas destas... enfim, todas as fases de leitura porque passaram as amigas, primas e irmãs...
Nos últimos tempos, entre as frases que mais digo está “a esta altura, só leio uns quantos escritores, fulano, sicrano e beltrano”... É mentira, confesso, mas pode ser que resulte...
 
 
 

imperdoável

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Até já gostava de ficar triste, da quietude que lhe perdoavam nesses dias. Sem dever nada ao som do riso, e respirar só em suspiros.
Eram dias só dela, os que ficava no torpor da melancolia. Ninguém se aproximava, que tinham medo que se pegasse essa doença, agora que todos eram instigados a deixar de lado quem lhes retirasse o sorriso Instagramavel da cara, Um big brother mandava que todos fossem felizes, e todos eram, porque tudo ía ficar bem. Bastava fingir que eram contentes, que o contentamento chegaria. Aos que não o fossem, restava o exílio... e partiu. Antes real. 
 
Ser triste é ser leproso por estes dias e já nem aos poetas e apaixonados se perdoa. 
 
 

quando dói o primeiro domingo de maio

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A maior das solidões é a ausência do único amor incondicional. Da palavra que temos como certa, do abraço que sabemos sonhado quando estamos longe.
Perder os que estiveram connosco desde o início marca o envelhecer. É a barreira que não queremos passar, a linha que desejaríamos não cruzar.
Como um sonho, podemos perdê-los dum dia para o outro ou, como a esperança, podemos perdê-los lentamente. O luto vai-se fazendo devagarinho, em cada memória que é esquecida; a dor vai-se instalando em cada relato distante da realidade e, por isso, longe de nós num afastamento que se sente como físico.
Ir dizendo adeus a alguém que se ama tanto, ainda em vida, é a solidão a crescer como um espinho que se vai enterrando na carne.
O corpo humano vive, muitas vezes além da capacidade da razão o acompanhar. E não me parece que seja bom...
 
 

retomar a vida nas mãos

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Retomar a vida nas mãos. Retomar Sábados e Domingos sem um vidro pelo meio. Dar férias às rotinas de viver aprisionada, na esperança de que sejam um adeus definitivo.
Voltar a viver o que me torna aquilo que sou e deixar de ser pela metade. Redescobrir como sou tão isto. Estes prazeres, estas manhãs hedonistas de sol na cara, mão na mão e sair por aí. A conversa com os amigos de longe que já posso ter perto e como são os seus risos, ah, os seus risos, dos mais ternos dos sons!
Isto é o meu normal. A vida como a quero viver. E aí vou eu, que não podendo ter de volta o tempo que me roubaram, não deixarei que este, agora, lhe faça companhia no poço das coisas invividas. Este, é para me lambuzar de prazer... 
 
foto: o mundo lá fora com tudo o que tem de maravilhoso. E não sejam das pessoas que não fotografam porque está lá um poste ou das que acham que o poste atrapalha. Retratem a vida, tirem partido do mundo como ele é! Com postes... :)