Da Finitude
Lembro-me dos Verões eternos da infância, das tardes imensas em que, deitada na terra de olhos no nada, ouvia as cigarras. E as noites, em que se contavam estrelas cadentes e os grilos formavam então o coro que se ouvia.
Algures pelo Verão adentro, já nem nos kembravamos como começara e duvidávamos que as tardes arrefecessem ou as folhas caíssem, num sabor a eternidade que só há quando o resto podia nem haver.
Agora, os Verões chegam com sabor a efémero, vivem-se as tardes quentes com sofreguidão, na antecipação do fim e braços abertos a guardar o que couber de sol e mar.
Aqui, parada na rua, olho para as crianças do quarto esquerdo que saem e penso Será que também eles têm Estios infinitos como os meus? Será que gozam os dias na languidez da despreocupação ou no frémito da correria para a praia?
Depois, olho para a vizinha do primeiro, que sai de capeline e túnica branca, tomando o caminho da praia numa lentidão compassada. Vai sempre para o seu cantinho, entre a pequena enseada que as famílias com filhos pequenos preferem e o areal extenso ocupado pelos grupos de adolescentes barulhentos em redor das pranchas de surf. À tarde, o Clube com a piscina, mais perto de casa e mais sossegado.
E entre a minha infância, a infância das crianças do quarto esquerdo e a possibilidade da rotina de banhos da Dona Helena estar mais próximo que aquilo que penso, decido que Amanhã mando tudo às urtigas e vou à Costa!
Decisão tomada e já não me sabe tanto a azedo a finitude do Verão… ou da vida.