hora de ponta cá no prédio
Sábado e Domingo há hora de ponta no vestíbulo cá do prédio.
Assim, sem se suspeitar, fomo-nos encontrando lá em baixo, mutuamente surpreendidos por depararmos com vizinhos de cabelo desalinhado, as calças moldadas ao sofá e, nos pés, claramente o que era mais fácil de calçar e estava ali à mão. Ao pé, digo eu.
Uns descem, outros sobem. Uns só se cruzam, outros partilham um quarto de hora de conversa.
Ali ficamos, no círculo alargado de distância física mas na aproximação do sorriso nos olhos, no meneio da cabeça que cumprimenta quem chega e quem vai. . Na verdade, nunca tínhamos estado assim, conversando sobre a falta que faz a praia, o aborrecimento de estar em casa, os destinos adiados sine die, as saudades de alguém... São palavras trocadas sobre os pequenos nadas dos dias.
Para algumas destas pessoas são estas as únicas conversas banais, mas reais, que têm durante a semana. Sem tecnologia como intermediária. Risos e vozes sem a pressa do supermercado ou a impessoalidade do carteiro.
E em nome cá do prédio, agradecemos esta oportunidade de nos conhecermos melhor à política dos serviços de entregas de refeições, que não sobem até aos apartamentos. Assim, lá tivemos que começar a descer ao vestíbulo para esperar o almoço... e as palavras nasceram, como já plantadas num terreno que só esperava rega.
E enquanto subo com a refeição para os meus, vou pensando como estamos sedentos de conversas a sério, com gente do lado de cá do ecrã. Findo o confinamento, voltarão as rotinas que desejamos e, claro terminarão estas pequenas pérolas que a vida também tem para nos oferecer agora. Mas os bons-dias serão sempre mais bonitos!
foto: Paris, mas podia ser a minha rua... haja luz nos olhos!