...num campo de papoilas
Se uma cor me servisse como sapato perdido depois do baile, era o vermelho. Aquele tom da flor aprisionada no celofane, em molhos de afetos desajeitados, kitsch, de historieta de cordel.
Também aqueloutro, o da luz sanguínea lançada pela echarpe sobre o candeeiro, abat jour de filme de terceira, alongando a noite até à madrugada.
E a cor que me precede a nudez, na roupa que largo em salpicos vibrantes pelo chão, delicia de voyeur... E logo os beijos, que caem como cerejas, húmidos como bagos de romã, rolando pelo corpo até pararem num qualquer sítio já suado.
Ou as paredes nas tardes de motel, na pressa do sexo, que a taxa dobra e nada basta, nada chega para tanta cegueira por prazer, que vermelho é cor de fogo, de ânsia, cor de urgência, cor de agora-ou-nunca...
...mas hoje, não. Hoje sou só uma mulher exausta de tanto querer, tanto amor e desamor, esvaída por esses corpos, deitada à luz num campo de papoilas.
fotografia: Terena, Alentejo
Escrito no âmbito do desafio da "caixa de lápis de cor" no blog da Fátima,. Entram também o José da Xã A 3ª Face, a Maria Araújo, a Peixe Frito, a Isabel, a Luísa de Sousa, a Maria, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor,, a Miss Lollipop, a Ana Mestre, a Ana de Deus, a Cristina Aveiro, a bii yue, o João-Afonso Machado a Marquesa de Marvila e a olga