Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

Saramago, o poeta

46A909D5-FB79-440A-B8CF-597B61609C4D

Saramago foi poeta até na prosa, o que aconteceria quando se debruçasse em poesia na folha branca? Maravilha e deslumbramento.
Sou leitora da prosa de Saramago até à medula, mas este versejar foi o primeiro contacto que tive com ele, ainda menina. E onde me nasceu a paixão. 
Comecei por admirar as coisas mais simples do homem da Azinhaga, depois a sua maneira de estar no mundo. Mais tarde, a sua obra que mexe fundo, tão fundo, desde a ligação à terra, o retrato da (des)humanidade,  até ao fantástico que nos faz correr o espírito para fora do corpo...

 
Circo

Poeta não é gente, é bicho coiso 
Que da jaula ou gaiola vadiou 
E anda pelo mundo às cambalhotas, 
Recordadas do circo que inventou. 
 
Estende no chão a capa que o destapa, 
Faz do peito tambor, e rufa, salta, 
É urso bailarino, mono sábio, 
Ave torta de bico e pernalta 
 
Ao fim toca a charanga do poema, 
Caixa, fagote, notas arranhadas, 
E porque bicho é, bicho lá fica, 
A cantar às estrelas apagadas.
 
JOSÉ SARAMAGO 
In, "Os Poemas Possíveis", 1966 
 



13 comentários

Comentar post