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Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

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desafio | desenhar com palavras

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Somos nesta colmeia   desafiados pela Ana de Deus a completar, com palavras, o rosto desenhado por Laura Augusti...
 
... e assim:
 
O sol ia alto, projetando nos seus olhos a sombra, mas não lhes retirando luz.
Olhos a descoberto pelo cabelo, junto num apanhado que ameaçava já desmanchar-se e invadir o rosto.
Um gesto rápido o afastaria e os olhos continuariam, vastos, dizendo o que precisava ser dito.
 
Disseram e desviaram-se, já ignorantes d'Ele, fixando um ponto no infinito, onde vagueava o pensamento d'Ela.
 
Ele continuou fixo naqueles olhos. Veio-lhe à ideia a maneira como se semicerravam quando o nariz, um pouco grande para o rosto aspirava o ar forte da maré vazia. Um nariz aquilino, de uma beleza que provocava os cânones.
 
Os olhos, evitando  agora os seus, continuariam a semicerrar-se nas gargalhadas, soltas por aquela boca não muito bonita, com um lábio inferior polposo e um superior contraditório, fino como uma linha.
 
Toda aquela mulher era um território incoerente, maravilhoso e apaixonante. Mas para Ele, era altura de rumar a outras paragens...