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Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

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A Fábrica de Cretinos Digitais | Michel Desmurget

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A Fábrica de Cretinos Digitais - Os perigos dos ecrãs para os nossos filhos, Michel Desmurget
 
“Simplesmente não há desculpa para o que estamos fazendo com nossos filhos e como estamos colocando em risco seu futuro e desenvolvimento".
Palavras de Desmurguet, a partir de investigações que mostram como “os nativos digitais são os primeiros filhos a terem um QI inferior ao dos pais. Após milhares de anos de evolução, o ser humano está agora a regredir em termos cognitivos e de capacidades intelectuais - por culpa da exposição excessiva a ecrãs.”
 
Estará na hora de refletir sobre estas questões, ao invés da eterna culpabilização da escola por não se adaptar às necessidades atuais dos alunos. De facto, a escola tem sido elástica e inclusiva, num permanente esforço de responder ao que se exige às novas gerações: executantes e técnicos.
 
O conhecimento, que estrutura verdadeiramente o espírito analítico e crítico das questões de fundo da existência humana, é desprezado a favor da resolução imediata de problemas, do afamado “trabalho de projeto”. A ironia é que o trabalho de projeto, a metodologia do design (até há formações a peso de ouro sobre isto pelas faculdades da moda) é do início do século passado e aplicada desde o 2º ciclo nas disciplinas que a sociedade pensa servirem para entreter : Educação Tecnológica, Educação Visual. Na verdade, por trás daquilo que pensam ser "um desenho" está todo um trabalho de aplicação da metodologia do projeto.
 
E, depois de cortarem a carga horária estas disciplinas, querem este método de trabalho aplicado a todo o sistema... com alguma resistência lúcida por parte de professores e pais mas, na sua maioria, com o beneplácito de quem almeja uma sociedade como convém a quem comanda: seres que não reflitam mas pensem em termos imediatos: técnicos ignorantes e obedientes.
 
 

miúdos, não deixem de sonhar...

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Não sendo o ensino à distância a solução ideal em qualquer das dimensões da aprendizagem, não vai ter as implicações catastróficas que por aí  auguram. 
Temos situações terríveis o ano todo, e ninguém lhes dá esta voz.
 
Trabalhei no concelho de Montalegre, Castanheira de Pêra, Amadora. Conheço bem os locais onde só se apanha rede espanhola, aqueles onde muitos faltam às aulas porque há um nevão. E aqueles onde, quando chegam à escola, já trataram do gado. Ou dormiram com ele, para terem calor.
E muito mais, dificuldades não faltam.
 
E os alunos que têm vindo a ser prejudicados, inclusive em anos de exame, por não terem professores já o ano vai a meio.
E isto não acontece nas aldeias, mas sim nas cidades, onde um professor nao pode aceitar um horário incompleto, a ganhar quatrocentos ou seiscentos euros e pagar trezentos por um quarto.
Porque, realmente, ninguém quer esta profissão tão fácil... porque será?
Este são factos que não dependem de uma pandemia. Já existiam e vão piorar.
 
Quanto à perda de conhecimentos que se irá refletir irremediável e desastrosamente no futuro... Ei!!! Gente!!! Onde está a geração que fez anos com passagens administrativas no 25 de abril? E aqueles que, mais tarde, tiveram anos inteiros sem professores a várias disciplinas e, quando chegavam, só tinham o sexto ano dos liceus?
São todos ignorantes e incompetentes? Ora...

Não. Não vai ser o ideal. De forma alguma. Mas não é presságio de um futuro de ignorantes. Pelo menos, não por causa da pandemia...
 
É ter calma. Dar segurança aos jovens.
É assim que amanhã receberei os meus três níveis de secundário.
Dizer-lhes que sim, continuem a sonhar. Sonhem, invistam no conhecimento.
Sonhem. Não deixem de sonhar... 

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fotos:
* Bandeirola da "Purple Pineapple Design", papelaria sustentável e feita com amor... por uma ex-aluna. 
* Sweatshirt pela "Super Nervosa", micro empresa de moda sustentável de outra ex-aluna. 

é isto!