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Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

este teletrabalho vai dar umas memórias...

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Cá por casa, começa a dança do teletrabalho às 8.15h, com as primeiras aulas.
Acaba às 21.00, quando o miúdo que está a fazer formações marafadas (nerd!) e mestrado on-line termina.
Para compor, o gato mia desalmadamente, tem 18 anos, e não percebe o que se passa aqui!
To-dos-os-di-as
 
E pelo dia todo, vozes e mais vozes, continuamente. Vozes de cá para lá, de lá para cá, desconfio que algumas já moram na minha cabeça.
Acho que as ouço, como aquelas peças peças do tetris que víamos a cair quando fechávamos os olhos!
 
Na luta pelo sinal de internet e a impossibilidade de estarmos juntos, a falar e a ouvir, estamos distribuídos pela casa.
Eu, além de ser aquela que come os restos do frigorífico, sou a trabalhadora remetida para o quarto.
 
Assim, depois de ter enviado aos meus alunos um documento com as diversas orientações, cá estou em pleno incumprimento, sentada na cama!
Com um belo fundo estrelado do Classroom, Vou-me mexendo para a esquerda, para a direita, no esforço de que eles não reparem. Vamos ver até quando... 
 
Mas sabem que mais? Estou a repor aulas, farta de estar na cama, está tudo de pantanas cá em casa, mas estou feliz!
Estou à distância de um link do meet, sinto-me a acompanhar os miúdos... e gosto tanto de ver as caras deles! estamos juntos nisto e vamos conseguir!
 
Quando a loucura se instalar, ataco a garrafeira ☺️
 
 
 
 
 
 
 
 

miúdos, não deixem de sonhar...

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Não sendo o ensino à distância a solução ideal em qualquer das dimensões da aprendizagem, não vai ter as implicações catastróficas que por aí  auguram. 
Temos situações terríveis o ano todo, e ninguém lhes dá esta voz.
 
Trabalhei no concelho de Montalegre, Castanheira de Pêra, Amadora. Conheço bem os locais onde só se apanha rede espanhola, aqueles onde muitos faltam às aulas porque há um nevão. E aqueles onde, quando chegam à escola, já trataram do gado. Ou dormiram com ele, para terem calor.
E muito mais, dificuldades não faltam.
 
E os alunos que têm vindo a ser prejudicados, inclusive em anos de exame, por não terem professores já o ano vai a meio.
E isto não acontece nas aldeias, mas sim nas cidades, onde um professor nao pode aceitar um horário incompleto, a ganhar quatrocentos ou seiscentos euros e pagar trezentos por um quarto.
Porque, realmente, ninguém quer esta profissão tão fácil... porque será?
Este são factos que não dependem de uma pandemia. Já existiam e vão piorar.
 
Quanto à perda de conhecimentos que se irá refletir irremediável e desastrosamente no futuro... Ei!!! Gente!!! Onde está a geração que fez anos com passagens administrativas no 25 de abril? E aqueles que, mais tarde, tiveram anos inteiros sem professores a várias disciplinas e, quando chegavam, só tinham o sexto ano dos liceus?
São todos ignorantes e incompetentes? Ora...

Não. Não vai ser o ideal. De forma alguma. Mas não é presságio de um futuro de ignorantes. Pelo menos, não por causa da pandemia...
 
É ter calma. Dar segurança aos jovens.
É assim que amanhã receberei os meus três níveis de secundário.
Dizer-lhes que sim, continuem a sonhar. Sonhem, invistam no conhecimento.
Sonhem. Não deixem de sonhar... 

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fotos:
* Bandeirola da "Purple Pineapple Design", papelaria sustentável e feita com amor... por uma ex-aluna. 
* Sweatshirt pela "Super Nervosa", micro empresa de moda sustentável de outra ex-aluna. 

é isto!