Cansativa, esta vida em estado de urgência. Este projetar no amanhã a possibilidade de uma certeza. Enquanto os três Cavaleiros do Apocalipse dão a cíclica volta pela terra, semeando fomes, pestes e guerras, esperemos que não espreite o quarto na derradeiro untar do umbigo do Homem ou no castigo final da mãe Terra.
O mundo está sempre em guerra. Sempre. Não é a fé, o conhecimento ou o progresso que a mantêm à distância. A arrogância e a ambição do Homem trazem-na sempre de volta. E mesmo perante ela, não há sinais de humildade da parte desta espécie danada. Só gritos de vitória antecipada e a euforia dos estrategas de sofá.
E seguimos, rumo a uma Europa de novo enfraquecida, mergulhada numa crise dolorosíssima... onde quem ganha são sempre os mesmos. Porque é a esses que todo o conflito interessa, são esses que o urdem calmamente enquanto as atenções se desviam. E subitamente, os olhos que não quiseram olhar e os ouvidos que não quiseram ouvir, pasmam de espanto! Ah, humanidade perversa...
As flores abriram com se fosse primavera esperançadas por um calor súbito, uma ilusão de vida temporã. E depois o frio da noite, a quebrar as intenções do fruto.
O Homem negou-se o ritmo da natureza e agora, é Gaia que vagueia desnorteada entre os dias humanos, confusa e perdida.
O Caos é agora o senhor reinante enquanto os homens, teimosos na sua ilusão de poder, afundam na desordem a Terra e a Vida em todas as suas formas.
Mas do Caos nascerá a Ordem, que os ciclos acham sempre o caminho de se impor, são a única certeza. Embora nada tenhamos aprendido com eles, são a única certeza.
foto: a minha amiga Paulinha, qual Gaia perdida | fev 2022
Gosto de tudo o que me dá a ilusão de ser livre. Gosto das manhãs de sábado sem despertador, da maneira como se aproximam das tardes em que o único relógio que interessa é o que o corpo impõe.
Gosto dos pensamentos que não me leem, sejam as crenças mais profundas ou as imagens que em décimas de segundo me fazem questionar as sinapses.
Numa altura em que sabem tudo de mim cada vez que ligo o gps ou faço uma compra on-line... nestes dias em que a manipulação é tanta que, para ter acesso a outros pontos de vista de gente credível é preciso escavar fundo... a liberdade, é uma ilusão.
Neste tempo em que, a mando dos poderosos me retiraram e continuam a retirar liberdades fundamentais.
Valham-me os sábados. Valham-me os dias em que a agenda está limpa; em que só me rodeiam aqueles com quem não tenho que escolher palavras. E o sol, a praia, os livros e a arte.
Abençoadas as ilusões com que vamos trocando as voltas à realidade!
Esta Primavera senti, como nunca antes, a cidade despertar ao ritmo da Natureza.
É um ror de desabrochares, uma turbulência de cores que não se fica pelos canteiros mas que se alastra às pessoas. E estas andam por aí em catadupa de risos e roupas frescas, explodindo em movimento depois de uma hibernação forçada. Antinatural e de uma violência que ecoará ainda por muito tempo.
Um perfeito alinhar com a vida, uma alegria incontida ao sorver do ar do mar e dos cheiros dos jardins.
Que nunca a Primavera e as Gentes estiveram numa sintonia tão perfeita…
Retomar a vida nas mãos. Retomar Sábados e Domingos sem um vidro pelo meio. Dar férias às rotinas de viver aprisionada, na esperança de que sejam um adeus definitivo.
Voltar a viver o que me torna aquilo que sou e deixar de ser pela metade. Redescobrir como sou tão isto. Estes prazeres, estas manhãs hedonistas de sol na cara, mão na mão e sair por aí. A conversa com os amigos de longe que já posso ter perto e como são os seus risos, ah, os seus risos, dos mais ternos dos sons!
Isto é o meu normal. A vida como a quero viver. E aí vou eu, que não podendo ter de volta o tempo que me roubaram, não deixarei que este, agora, lhe faça companhia no poço das coisas invividas. Este, é para me lambuzar de prazer...
foto: o mundo lá fora com tudo o que tem de maravilhoso. E não sejam das pessoas que não fotografam porque está lá um poste ou das que acham que o poste atrapalha. Retratem a vida, tirem partido do mundo como ele é! Com postes... :)