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Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

Crónicas do Chão Salgado

resistir e criar, por mais que nos salguem o chão dos dias | crónicas, memoirs, & leituras

peste em tempo de peste

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Ler sem ver os olhos do outro é bom para um romance, para poesia.
Cenários em que a nossa imaginação corre livremente a par de quem escreveu, se apropria das narrativas e se aconchega a elas, ou as repele e coloca de lado.
Com os segundos sentidos que aferimos de acordo com a nossa própria realidade.
 
Num contexto de comunicação virtual, em que há leitura e escrita, existem também fenómenos de apropriação mental, emocional.
E muitas vezes, a partir da leitura, fazemos uma apropriação segundo o que somos, o que pensamos, escapando-nos a intenção do mensageiro.
Não conhecemos quem está por trás das palavras, não vemos os olhos, a expressão... e quantas vezes um olhar e um sorriso contextuam uma resposta, dão-lhe a verdadeira dimensão!
 
Não há emojis que cumpram o papel dos olhos nos olhos... e as leituras desviantes, em casos extremos seguidas da resposta de ofensa fácil, alargam-se a todas as plataformas.
São uma peste em tempos de peste.
 
E por isso, no mundo virtual, o ideal é ser concha. 
Adotando, para esta esta peste, as regras daquela outra: máscara e distanciamento!
Um dia voltarão as reuniões entre amigos de palavra fácil, as discordâncias enriquecedoras, as discussões acesas, longas e acompanhadas de uma bebida... olhos nos olhos. sorriso contra sorriso... e aí sim, haverá liberdade de Ser em cada palavra! 
 
 
Foto: Detalhe de porta no Cais Palafítico da Carrasqueira | Comporta | Fevereiro 2020